De um ser único à retomada da ligação com a amamentação

Linha de apoio
Pediatra e neonatologista Paulo Sério Mario fala sobre a valorização do aleitamento materno
Publicado em 06/08/2018 - Editado em 15/10/2024 - 10:30
À direita, o pediatra em pé. À esquerda, as mamães e bebês sentados
Paulo Sérgio Mario
Crédito
Márcia Greiner

Há 20 anos acolhendo as crianças logo que deixam a barriga da mãe, o pediatra e neonatologista da Fundação Saúde Pública de Novo Hamburgo (FSNH), Paulo Sérgio Mario, consegue, com uma fala simples, fazer as mães e pais valorizar o aleitamento materno, com benefícios para o bebê, para a mãe e para os dois juntos. “Qual a percepção que o bebê, ainda na barriga, tem em relação à mãe?” Diante dos olhares das participantes da Roda do Mamá, como se estivessem buscando a resposta mais correta, o médico dispara: “A percepção é que ele acha que são um só. E, depois que se corta o cordão umbilical, a ligação é retomada na amamentação. Só quando estiver maiorzinho é que o bebê perceberá que são diferentes”.

Segundo o pediatra, o corpo humano é tão sábio que, no final da gestação, começa a liberar ocitocina, o hormônio do amor, para que a mãe se apaixone pelo bebê. “Sabe aquele olhar vidrado que o bebê olha para a mãe, é porque ele também recebeu a ocitocina. É uma paixão recíproca.” Informações oficiais, curiosidades e dicas não faltaram na palestra realizada com as mães na Maternidade do Hospital Municipal. A Roda do Mamá é uma das atividades da programação da Semana Municipal de Aleitamento Materno de Novo Hamburgo.

Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) dá conta que, em 2016, 15 mil crianças morreram por dia antes de completarem seu 5º aniversário. Quarenta e seis por cento delas – ou 7 mil bebês – morreram nos primeiros 28 dias de vida. E os números da mortalidade infantil tendem a aumentar se o aleitamento materno não for incentivado. “O leite materno é o melhor alimento e os bebês devem iniciar a amamentação já em sua primeira hora de vida.”

MICROBIOTA - Mario falou sobre as inúmeras vantagens da amamentação. Além de fornecer saúde, imunidade e proteção para o bebê, mães que amamentam podem perder 800 calorias por dia (redução do peso), ficam mais protegidas contra o câncer de mama e de ovários. Outro ponto observado foi sobre a transferência de bactérias da mãe para o bebê, o que acontece no momento do nascimento. Citou que, nos últimos cinco anos, este conjunto de micro-organismos, chamado de microbiota, passou a ser estudado, sendo considerado essencial para a manutenção da saúde do bebê e tem influência no tipo de parto.

Segundo estudos, bebês nascidos por meio de parto normal são colonizados, primariamente, pela microbiota vaginal de suas mães, enquanto bebês nascidos de parto cesáreo são colonizados pela microbiota da pele. Ou seja, haveria aumento do risco de doenças intestinais, asma, diabetes e obesidade em bebês nascidos por parto cesariano. “Portanto, para que as crianças se desenvolvam de forma saudável a recomendação é o parto normal e peito”, diz o pediatra, ao reforçar a transferência genética.

O pediatra vai mais longe. “Antes era só leite materno, depois houve a geração do leite em pó. Tirar fotos com pilha de latas era considerado o máximo. O resultado foi a alteração da flora bacteriana, intolerância à lactose, e o atraso, em muito, da prática do aleitamento materno”, explicou. Ao citar que amamentar não é fácil, o pediatra diz “temos que pensar em todos os benefícios e resgatar o ato de amamentar que só traz benefícios para o recém-nascido, vantagens estas que se prolongam pela vida toda”. Na conversa ainda teve dicas do posicionamento para proporcionar uma amamentação correta e os cuidados com a mama, sendo encerrada com o sorteio de brindes, como sapatinhos, mordedores e almofadas.

A Semana Municipal de Aleitamento Materno, organizada pela Coordenação da Política de Alimentação e Nutrição da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) em parceria com a FSNH, prossegue com atividades no Hospital Municipal e Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Unidades da Saúde da Família (USFs) até amanhã (7).