Homenagem aos 40 anos do Movimento Casa Velha e ao artista Carlão ocorre no dia 27

Publicada em 25/04/2017 - Atualizada em 17/10/2024
Marciano, Scholles e Carlão, os fundadores do Movimento Casa Velha - Foto: Acervo Joel Reichert

Nos anos 70, movimentos artísticos colocaram Novo Hamburgo no centro cultural de todo o Brasil. O maior deles foi o “Casa Velha”, que lançou nomes até hoje consagrados nas artes plásticas e visuais. Este movimento surgiu do imaginário de três artistas: Flávio Scholles, Marciano Schmitz e Carlos Alberto de Oliveira, o Carlão.

Para celebrar a passagem de 40 anos deste movimento e agraciar o artista Carlão, falecido em 2013, na próxima quinta-feira, 27, às 19h, será aberta para a visitação a mostra “Vestígios da Memória: Exposição Movimento Casa Velha 40 anos”, de Marciano Schmitz e Flávio Scholles. Na ocasião, ainda, será entregue o projeto de revitalização do Espaço Cultural Albano Hartz e o Memorial Carlos Alberto de Oliveira será reaberto.

Na exposição, de um lado, Marciano apresentará suas obras mais pessoais. “Aquelas não comerciais, as mais obscuras, aquelas que guardamos para nós”, confidencia. Do outro, Scholles pretende afirmar o seu novo momento “político-mitológico”, que remete ao “Vale das Sete Mulheres”. Scholles explica que a região, governada por sete prefeitas, viverá, em breve, o seu apogeu. “A simbologia deste fato é muito forte, é um momento transformador, que tenho retratado em meus quadros”, destaca o artista.

Um movimento de convívio diário com a arte

Surgido em 10 de abril de 1977, a “Casa Velha” foi um importante episódio na Cultura de Novo Hamburgo e região do Vale do Sinos. O fundador da Casa, junto com Marciano e Carlão, Scholles resume a representatividade da ação. “Foi o primeiro movimento artístico a antever a globalização”, declara.

Apesar do curto tempo de atuação (foram dois anos e meio de intensa produção), o movimento deixou marcas profundas na vida dos hamburguenses e na história. De lá, surgiram artistas dos mais diversos segmentos, que viam naquele espaço, no coração de Hamburgo Velho, bairro histórico da cidade, a capital cultural da região.

O movimento da “Casa Velha” durou menos do que deveria, mas transformou mais do que se esperava. Apesar disso, a ideia central, que resultou em sua criação, foi cumprida: fazer com que os artistas locais ficassem na sua terra natal, sem precisarem migrar aos grandes centros em busca de reconhecimento e valorização da sua arte. E, fundamentalmente: mudar a mentalidade das pessoas. Mostrar que arte é o alimento da alma e que é possível viver dela.

A Casa Velha oferecia diversos cursos, como dança e expressão corporal, técnicas de jazz, laboratório de ginástica rítmica, todos ministrados pela professora Maria Luiza Tisi Grimaldi. Os de pintura e desenho eram ministrados por Marciano. Os de entalhe em madeira, pela professora Janete Conceição. Tapeçaria pelas professoras e artistas Ilse Schmidt e Lurdi Blauth. Porcelana, pela professora Renira Castilhos. Desenho e pintura para crianças, pela professora Marga Momberger. Além dos cursos de fotografia, modelagem, molduras, aquarela, teatro, chiboris (tingimento de tecidos) e pintura em porcelana, cerâmica e telas. Os cursos despertavam o interesse e a criatividade de quem participava, servindo de fonte de renda para a manutenção da casa. Em plenos anos 70, a Casa chegou a abrigar mais de 250 alunos no mesmo período.

Carlão: vida e obra recontadas

Um artista negro, pobre e morador de periferia, que abriu espaço na densidade dos preconceitos hamburguenses com o seu talento. Se a vida foi dura com Carlos Alberto de Oliveira, ele tratou de dar cor a ela em seus traços. Cor. Talvez, seja esta a marca registrada de toda a sua obra. Com seu estilo primitivo, também chamado de Naif, ganhou prêmios e alcançou o mundo, sem deixar de encantar a sua terra natal, que, hoje, o homenageia dando seu nome à Escola de Artes de Novo Hamburgo, desde 2014.

Em 2016, no Espaço Cultural Albano Hartz, foi inaugurado o memorial que conta parte desta história. Memorial este que, será reinaugurado no dia 27, completamente reformulado, no primeiro andar do Espaço Cultural, onde terá maior visibilidade. É um reconhecimento à sua obra, ao seu talento, e, também, ao seu esforço conjunto na criação da Casa Velha para fomentar a arte na cidade.

Albano Hartz ganha novos ares

Um imponente prédio histórico se destaca no Calçadão Oswaldo Cruz, no Centro de Novo Hamburgo. É o Espaço Albano Hartz, que recebe exposições de arte e oficinas e que terá a sua revitalização também entregue no dia 27. O prédio passou por restauros de alvenaria e pintura da fachada, pintura das salas de exposição e mudanças internas nos espaços, como a sala de administração, transformada em um espaço de oficinas.

Com a revitalização, o Espaço pode ser muito mais utilizado, acredita o secretário de Cultura, Ralfe Cardoso. “É preciso potencializar o uso do espaço e a sua ocupação por artistas, entidades, pessoas ligadas à Cultura. É um espaço no coração da cidade que pode ter atividades em tempo integral e logo se transformar em uma referência, colocando Novo Hamburgo como parada obrigatória do círculo artístico da região e do Estado”, avalia.

Todas as ações são da Prefeitura de Novo Hamburgo, através da secretaria de Cultura e Escola Municipal de Artes Carlos Alberto de Oliveira.

Os artistas

Carlos Alberto de Oliveira - o Carlão como é mais conhecido, nasceu em Novo Hamburgo, em 1951. Foi na escola que Carlão deu os seus primeiros passos na criação de figuras simplificadas. Em 1968 ganhou uma bolsa para estudar arte na Escola de Belas Artes e, desde então, nunca parou. Na Escola de Belas Artes surgiram as primeiras figuras primitivas, com contornos pretos e pintura pingada no fundo, uma de suas marcas registradas. Em 1974, expôs sua obra pela primeira vez no Centro de Pesquisa de Arte e obteve a primeira classificação em dois concursos promovidos em Novo Hamburgo. Em 1975 participou de seis exposições em Porto Alegre e do IV Salão do Jovem Artista do Rio Grande do Sul. Em 1983 realizou no Museu de Arte do Rio Grande do Sul grande exposição sobre discriminação do negro: 25 trabalhos, entre pintura e desenho. Na pintura, caracteriza-se pela inconfundível linguagem pessoal, elaborando formas humanas unidas sobre a superfície da tela no limite da abstração.

Scholles – Nascido em São José do Herval, em 1950, filho de colonos, viveu em um tempo em que os estudos eram muito difíceis. Mas, em 1958, ganhou uma bolsa e começou a estudar. Ficou 3 anos em um colégio interno em Dois Irmãos, onde o seu talento para as artes logo chamou atenção. Era dispensado das faxinas para poder se dedicar à pintura. Mais tarde, em 73, foi para Campinas (SP), onde cursou a Faculdade de Artes da PUC. Lá, se reconheceu como um colono do Vale do Sinos, e decidiu que seu caminho seria de valorização desse habitante do Vale. Ao voltar de São Paulo, desembarcou em Novo Hamburgo, onde participou do movimento Cavalo Azul, conhecendo Carlão e Marciano. Dois anos mais tarde, fundaria a Casa Velha. Hoje, possui um atelier em Morro Reuter, aberto à visitação. Lá, tem se dedicado exaustivamente à pintura, produzindo entre 350 a 450 quadros anualmente.

Marciano – Também filho de Novo Hamburgo, nascido em 1953, Marciano Schmitz é também, hoje, um dos nomes mais relevantes das artes no Estado. Pintor, escultor e professor de artes, abandonou a estabilidade da profissão de professor para se dedicar integralmente à Casa Velha, ao lado de Scholles e Carlão. Formado na segunda turma do Instituto de Belas Artes da Feevale, Marciano transformou-se num ícone do surrealismo, também trazendo para sua obra o monumentalismo e o realismo, chegando ao muralismo clássico. O regionalismo e o sagrado são temas frequentes de suas obras, carregadas de simbolismos e mitologia.

Serviço:

Vestígios da Memória: Exposição Movimento Casa Velha 40 anos

O quê: Exposição de Marciano Schmitz e Flávio Scholles, entrega do projeto de revitalização do Espaço Cultural Albano Hartz e reabertura do Memorial Carlos Alberto de Oliveira.

Abertura: 27 de abril

Horário: 19h

Local: Passeio Calçadão Osvaldo Cruz, 112 - Centro, Novo Hamburgo

Visitação: segunda a sexta, das 9h às 17h

Galeria da notícia