O plano era continuar a ser goleiro. Mas o desejo de Kauã Eduardo Diniz de ser atleta deu lugar a uma prática improvável até bem pouco tempo. Aluno da rede municipal de ensino, o garoto foi surpreendido pelo convite para integrar o Núcleo de Orquestras Jovens e apaixonou-se pelo som do violoncelo assim que ouviu o instrumento pela primeira vez. Foi tocado pela vontade de explorar o desconhecido. “Gostei do som, achei bonito e quis aprender. Aceitei”, diz o menino com um sorriso tímido e a excitação diante da expectativa da primeira apresentação e do orgulho do professor André Werntz, que se mostra satisfeito por ter inspirado o garoto a também querer ensinar música percorrendo outros países.

Kauã faz parte do grupo que nesta quinta-feira, dia 15, protagonizou um momento ímpar para o ensino de música no município, quando o Núcleo de Orquestras Jovens tocou junto com a Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo em duas apresentações – pela manhã na EMEF Irmão Nilo, no bairro Boa Saúde, e à tarde na EMEF Salgado Filho, no bairro Canudos, mudando a rotina escolar por alguns instantes marcados pela curiosidade da animada plateia e pelo orgulho de familiares e professores de quem mostra o que já sabe.

Assim, os Concertos Didáticos, promovidos pelas secretarias municipais da Cultura (Secult) e da Educação (Smed), junto com o Instituto Arlindo Ruggeri, têm como proposta a democratização do acesso à arte por meio da música, tanto no que se refere ao ensino como à formação plateia. Orgulhoso, ao lado de músicos experientes, Kauã executou a 9ª Sinfonia de Bethoven, apaixonado, dessa vez, pelo som que aprende a produzir.

Em setembro, devem ocorrer mais duas apresentações, dessa vez nas EMEFs Machado de Assis e Francisco Xavier Kunz.

Por dentro da orquestra

Os Concertos Didáticos vão além das execuções dos músicos. Apresentados a um universo relativamente novo, o de instrumentos clássicos, os alunos recebem informações sobre como se divide e funciona uma orquestra. Bastante emocionado, foi o maestro Lincoln da Gama Lobo o responsável por falar de cada instrumento e de seu papel no contexto das músicas. “Para um músico isso aqui é fascinante, é educar por meio do que amamos fazer, apresentar um horizonte novo, abrir uma janela nova”, afirma o maestro.

E apesar de se tratar de instrumentos clássicos, distantes, até então, destas comunidades, não foi difícil para os estudantes identificar canções populares desde trilhas de cinema até sucessos infantis propagados pela Internet. “São poucas as cidades brasileiras que podem contar com projetos como estes, temos em dois extremos do município (Canudos e Boa Saúde) propostas que integram o público, apresentando espetáculos de qualidade. O que vemos agora é a materialização de uma proposta cultivada desde 2017”, afirma o secretário municipal de Cultura, Ralfe Cardoso.

Com o objetivo de fomentar a educação musical oferecendo novas vivências aos alunos e promovendo inclusão social, protagonismo artístico e formação de novas plateias, o Núcleo de Orquestras Jovens hoje contempla 80 crianças e esse número deve crescer, chegando a 1350 alunos. Cada orquestra tem integrantes distribuídos entre violino, viola, violoncelo e contrabaixo e os alunos participam de aulas de teoria, percepção musical e prática de conjunto.