Narrativas Literárias marca a entrega dos livros da Coleção Black Power

Acreditando no poder dos livros como ferramenta transformadora no combate ao racismo estrutural, a Secretaria Municipal da Cultura adquiriu a Coleção Black Power, da Editora Mostarda, que apresenta biografias de personalidades negras que são exemplos para as novas gerações. Ao todo, são 237 exemplares de 19 histórias adaptados em braille para a inclusão de pessoas com deficiência visual, que serão distribuídos na Biblioteca comunitária da Estação de Cidadania e Cultura (Praça CEU) e na Biblioteca Pública Machado de Assis.
Para marcar essa entrega tão especial, foi organizado um encontro do projeto “Narrativas Literárias”. Será neste sábado, dia 1° de julho, às 14h, na Estação de Cidadania e Cultura (Praça CEU – Rua do Bosque, no bairro Boa Saúde) e contará com a presença do escritor e psicólogo Everson Jaques, além das representantes da Adevis NH Rosane Salete da Silva Selzlein e Rejane Margarete da Silva Costa, para orientar a roda de conversa e tirar dúvidas sobre a temática.
Para o secretário da Cultura, Ralfe Cardoso, três pontos importantes são reforçados com a aquisição da coleção. “Primeiro, estamos ampliando o acervo e a oferta de livros na periferia da cidade. Independentemente do título, é um fato concreto, temos uma biblioteca lá. Segundo, estamos valorizando personagens negras e negros, que são importantes para a história da humanidade, que são importantes para o que queremos semear de futuro. E, por último, são obras acessíveis, que têm letras com fonte maior para a baixa visão e em braile para pessoas cegas”, destacou.
A aquisição ainda conta com três livros infantis: “O jardim de Marielle”, de Maria Julia Maltese e ilustração de Kako Rodrigues, inspirado na trajetória de Marielle Franco, política brasileira que defendia os direitos humanos; “Ovelhinhas” de Júlio Emílio Braz e ilustração de Leonardo Malavazzi, um livro que conta a história de uma ovelha que tem a cor diferente de todas as outras, levantando a questão da opressão de raça; e “O macaquinho que amava a lua” de Majori Silva e ilustração de Kako Rodrigues, inspirada num conto da Guiné-Bissau, a história conta sobre um macaquinho apaixonado pela lua. Desse amor, que parecia impossível, surge um som mágico.
Política antirracista
O secretário Ralfe Cardoso afirmou ainda que a aquisição da coleção se soma ao conjunto de iniciativas da política antirracista desenvolvida no Município, com ações como a Feira Afro-hamburguense que conta artesanato, moda, beleza, gastronomia, música de empreendedores e artistas negras e negros da cidade; o Memorial do Povo Negro da cidade que vem sendo desenvolvimento como uma proposta permanente; a Sociedade Cruzeiro do Sul designada como Patrimônio Cultural Imaterial do município; a priorização de protagonismo negro em eventos e afins, bem como políticas afirmativas em editais que garantem uma avaliação diferenciada para propostas com abordagem racial.
Autoras e autores das biografias: Gabriela Bauerfeldt, Júlio Emílio Braz, Orlando Nilha, Fabiano Ormaneze, Francisco Lima Neto, Marjori Silva, Maria Julia Maltese, Rodrigo Luis.
Personalidades
Carolina Maria de Jesus: escritora, compositora e poetisa. Empregada doméstica, catadora de papel e moradora de favela que, ao lançar o livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, tornou-se uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira.
Sueli Carneiro: escritora e filósofa que, ainda hoje, é um dos principais nomes na luta contra a desigualdade étnico-racial e de gênero no país. Sueli é responsável pela fundação do famoso Geledés – Instituto da Mulher Negra.
Barack Obama: primeiro negro a assumir a presidência dos Estados Unidos da América, cargo que deixou com grande aprovação popular depois de medidas como defender os direitos LGBT e priorizar a diplomacia em vez de militarismo.
Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas: uma das mais emblemáticas figuras da arquitetura no Brasil, escravizado até os 44 anos. Deixou um enorme legado à arquitetura de São Paulo, em construções como a antiga Catedral da Sé.
Conceição Evaristo: linguista e escritora. Pesquisadora-docente universitária. É uma das mais influentes literatas do movimento pós-modernista no Brasil, escrevendo nos gêneros da poesia, romance, conto e ensaio.
Theodoro Sampaio: geógrafo, historiador e engenheiro. Theodoro foi um dos principais intelectuais brasileiros, deixando como legado, entre outras publicações, sua famosa obra O tupi na geografia nacional.
Nelson Mandela: advogado, líder rebelde e presidente da África do Sul de 1994 a 1999, considerado como o mais importante líder da África Subsaariana, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1993, e pai da moderna nação sul-africana, onde é normalmente referido como Madiba ou "Tata".
Dandara e Zumbi: A obra conta a trajetória de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, e Dandara, companheira de Zumbi e guerreira do período colonial no Brasil. Zumbi e Dandara se tornaram símbolos da valorização da cultura afro-brasileira e da luta contra o racismo.
Beatriz Nascimento: historiadora sergipana e pioneira no modo de pensar a história a partir de saberes africanos. Estudou a formação dos quilombos no Brasil, aliando um pensamento acadêmico e científico às suas experiências individuais de militância e luta antirracista.
Laudelina de Campos Mello: em 1960 fundou a Associação Profissional Beneficente das Empregadas Domésticas, que se transformaria em sindicato. A atuação de Laudelina se tornou referência nacional e foi fundamental para que as domésticas conquistassem direitos trabalhistas.
Angela Davis: professora e filósofa socialista estadunidense que alcançou notoriedade mundial na década de 1970 como integrante do Partido Comunista dos Estados Unidos, dos Panteras Negras, por sua militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos.
Alice Walker: Esta obra conta a trajetória de Alice Walker, ativista feminista e aclamada escritora estado-unidense que, aos 39 anos, recebeu o Prêmio Pulitzer pelo livro “A Cor Púrpura”, adaptado para o cinema por Steven Spielberg.
Martin Luther King: pastor batista e ativista político estadunidense que se tornou a figura mais proeminente e um dos principais líderes do movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, vencedor do Prêmio Nobel da Paz e figura mundialmente conhecida por pregar a não violência e o amor ao próximo.
Malcolm X: mais tarde nomeado como Malik el-Shabazz, foi um afro-americano, ativista dos direitos humanos, ministro muçulmano e defensor do Nacionalismo Negro nos Estados Unidos. Fundou a Organização para a Unidade Afro-americana, de inspiração separatista.
Rosa Parks: mulher que, depois de ser presa por ocupar um assento de ônibus reservado para pessoas brancas, deu início ao clamor popular que acabou com a política racista no transporte público dos Estados Unidos.
Milton Santos: geógrafo, escritor, cientista, jornalista, advogado e professor universitário brasileiro. Considerado um dos mais renomados intelectuais do Brasil no século XX, foi um dos grandes nomes da renovação da geografia no Brasil ocorrida na década de 1970.
Júlio Emílio Braz: escritor brasileiro premiado nacional e internacionalmente. Sua literatura, sobretudo infanto-juvenil, discute importantes pautas da sociedade brasileira, em especial, no que diz respeito à juventude negra. Ainda hoje, Júlio é escritor ativo e uma inspiração para todos aqueles que se aventuram no mundo da escrita.
André e Antônio Rebouças: primeiros homens negros a cursar faculdade no Brasil e a se tornar famosos engenheiros. Também estudaram na Europa e no retorno ao Brasil, deixaram como legado importantes obras, como a ferrovia Paranaguá Curitiba e o parque nacional do Iguaçu.
Abdias do Nascimento: ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras. Responsável pela criação do Teatro Experimental do Negro (TEN) na década de 1940.