Exposição Casa Velha 40 anos recebe novos artistas
Lurdi Blauth e Tacho levam sua arte ao Albano Hartz

Depois do sucesso da primeira etapa da exposição Casa Velha 40 anos encerrada nesta semana, que apresentou obras dos artistas fundadores do movimento artístico dos anos 70, no próximo dia 3 de agosto, a partir das 19h, ocorre a abertura do segundo momento da mostra artística. Lurdi Blauth e Gilmar Luiz Tatsch, o Tacho, são os novos artistas convidados. Ambos fizeram parte do movimento, que lançou diversos artistas de renome. As obras estarão expostas na Pinacoteca Municipal, no Espaço Cultural Albano Hartz (Calçadão Osvaldo Cruz, 112 – Centro).
Os artistas convidados viveram a Casa Velha em momentos distintos da sua carreira. De um lado, Lurdi Blauth foi professora de tapeçaria na Casa. Do outro, Tacho, aos 18 anos, realizava sua primeira exposição de cartoons. Para Marciano Schmitz, um dos fundadores do movimento, a Casa Velha era um “imã” de artistas. “Nós tínhamos a Feevale, que era a faculdade, o institucional. E havia a Casa Velha, um manifesto artístico, que acabava atraindo gente de todas as áreas. A Lurdi era professora da Feevale na época, assim como eu. Ela tinha uma trajetória já, e começou a dar aulas na Casa Velha. O Tacho vinha de uma outra vertente, que era o cartoon. Existiam exposições permanentemente, saía uma de pintura, entrava a gravura, depois o cartoon, e várias outras. E, assim, fomos reunindo artistas”, explicou.
Para Tacho, que apresentará um pouco do seu trabalho ao longo dos últimos 40 anos, participar da Casa velha foi uma experiência marcante. “Ter participado daquela exposição em 1977, com outros cartunistas, me possibilitou conviver com artistas geniais, como o Scholles, o Marciano e o Carlão. Cada um tinha o seu estilo, e poder vivenciar isso com eles foi um grande despertar. Um verdadeiro incentivo para seguir em frente”, contou.
Memorial do Carlão
Além da nova etapa da Exposição Casa Velha, o memorial permanente de Carlos Alberto de Oliveira também receberá novas obras. A exposição explorará a forma e as sonoridades que permeiam a obra de Carlão. São retratos cotidianos da vida musical hamburguense e da região, passando por estudos musicais, apresentações, corais, o samba, os bailes etc. Também serão expostos estudos realizados antes das obras finalizadas e os trabalhos realizados que antecederam a definição da identidade que marcou o artista, o naif.
Os artistas
- Carlos Alberto de Oliveira, o Carlão como é mais conhecido, nasceu em Novo Hamburgo em 1951. Foi na escola que Carlão deu os seus primeiros passos na criação de figuras simplificadas. Em 1968 ganhou uma bolsa para estudar arte na Escola de Belas Artes e, desde então, nunca parou. Na Escola de Belas Artes surgiram as primeiras figuras primitivas com contornos pretos e pintura pingada no fundo, uma de suas marcas registradas. Em 1974 expôs sua obra pela primeira vez no Centro de Pesquisa de Arte e obteve a primeira classificação em dois concursos promovidos em Novo Hamburgo. Em 1975 participou de seis exposições em Porto Alegre e do IV Salão do Jovem Artista do Rio Grande do Sul. Em 1983 realizou no Museu de Arte do Rio Grande do Sul uma grande exposição sobre discriminação do negro: 25 trabalhos, entre pintura e desenho. Na pintura, tem trabalhos com inconfundível linguagem pessoal, elaborados com formas humanas unidas sobre a superfície da tela no limite da abstração.
- Lurdi Blauth – Natural de Montenegro, Lurdi é artista plástica, pesquisadora e professora da Universidade Feevale desde os anos 1970. Atualmente, é professora em cursos de graduação na área das Artes Visuais e do Programa de pós-graduação da Feevale. É Doutora em Poéticas Visuais, PPGAV, UFRGS/RS, 2005. Doutorado sanduíche, Université Paris 1, Panthéon Sorbonne, Paris, França. Desenvolve o projeto de pesquisa Arte e tecnologia: interfaces híbridas da imagem entre mediações e remediações que investiga possibilidades de intersecção de meios tradicionais e digitais em produções estéticas contemporâneas. Tem publicações de artigos interdisciplinares nas áreas da Arte e da Cultura.
- Gilmar Luiz Tatsch (Tacho) – Ainda criança, nos anos 60, Tacho começou a desenhar as coisas que via no dia a dia para se distrair. Aos 17 anos, já fazia charges para o Jornal Vale do Sinos. Um ano depois, participou de sua primeira exposição de cartoon, na Casa Velha. A partir daí, seu trabalho foi sendo cada vez mais reconhecido, passando a atuar nos jornais NH, VS, de Gramado, Correio do Povo, Correio de Gravataí e Diário de Cachoeirinha. Ao longo de sua trajetória, recebeu cerca de 25 prêmios, incluindo diversos troféus da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), umas das mais antigas e prestigiadas premiações jornalísticas gaúchas. Em 2015, uma de suas charges recebeu o prêmio Direitos Humanos do Jornalismo.
A Casa Velha
A Casa Velha foi um importante episódio na cultura de Novo Hamburgo e região do Vale do Sinos. Há 40 anos, no dia 10 de abril de 1977, surgia um movimento de vanguarda. Como diria Flávio Scholles, fundador da Casa Velha, junto com Marciano Schmitz e Carlos Alberto de Oliveira, o Carlão, “o primeiro movimento artístico a antever a globalização”. Apesar do curto tempo de atuação (foram dois anos e meio de intensa produção), deixou marcas profundas na vida dos hamburguenses e na história. De lá, surgiram artistas dos mais diversos segmentos. Gente de Novo Hamburgo e mesmo das proximidades, que via naquele espaço, no coração de Hamburgo Velho, bairro histórico da cidade, a capital cultural da região.
A Casa Velha durou menos do que deveria, mas transformou mais do que se esperava. Apesar disso, a ideia central, que resultou na criação do movimento, foi cumprida: fazer com que os artistas locais ficassem na sua terra natal. Que criassem, assim, uma identidade verdadeiramente sua, sem precisar migrar aos grandes centros em busca de reconhecimento e valorização da sua arte. E, fundamentalmente: mudar a mentalidade das pessoas, mostrando que arte é o alimento da alma e que é possível viver dela.
O escritor russo Leon Tolstoi dizia: “se queres ser universal, pinta a tua aldeia”. Não existe retórica melhor que esta para definir exatamente o que significava a Casa Velha. Não é a toa que estas palavras ornam até hoje as paredes do atelier de Flávio Scholles.
A Casa Velha oferecia diversos cursos, como dança e expressão corporal, técnicas de jazz, laboratório de ginástica rítmica, todos ministrados pela professora Maria Luiza Tisi Grimaldi. Os de pintura e desenho eram ministrados por Marciano. Os de entalhe em madeira, pela professora Janete Conceição. Tapeçaria pelas professoras e artistas Ilse Schmidt e Lurdi Blauth. Porcelana, pela professora Renira Castilhos. Desenho e pintura para crianças, pela professora Marga Momberger. Além dos cursos de fotografia, modelagem, molduras, aquarela, teatro, chiboris (tingimento de tecidos) e pintura em porcelana, cerâmica e telas. Os cursos despertavam o interesse e a criatividade de quem participava, servindo de fonte de renda para a manutenção da casa. Em plenos anos 70, a Casa chegou a abrigar mais de 250 alunos no mesmo período.
Serviço:
Vestígios da Memória: Exposição Movimento Casa Velha 40 anos
Abertura: 03 de agosto, às 19h
Visitação: de segunda a sexta, das 9h às 17h
O quê: Exposição de Lurdi Blauth e Tacho e troca do acervo exposto no Memorial Carlos Alberto de Oliveira